Memória do Corpo Docente – Elba Siqueira de Sá Barretto

ELBA SIQUEIRA DE SÁ BARRETTO

(Minibiografia baseada em entrevista concedida ao projeto “Registro histórico por meio de relatos biográficos de docentes aposentados: valorizando e reconstruindo a história da FEUSP” no ano de 2021.)


Elba Siqueira de Sá Barretto nasceu em 1943 na cidade de São Paulo, capital de São Paulo.
Em 1965 formou-se em Educação pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (atual FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). No seu primeiro ano de graduação (1962), presenciou a Greve do 1/3, que reivindicava representação paritária nos órgãos colegiados da universidade. Prosseguindo sua formação acadêmica, em 1980 concluiu seu Mestrado, que havia sido interrompido pelo AI-n°5, e em 1991 o Doutorado em Sociologia pela FFLCH.
Trabalhou no Programa de Assistência Técnica em Educação (PATE), promovido pelo INEP e coordenado pelo Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo, sob a chefia do Professor José Mário Pires Azanha. Durante esse período, nas palavras da biografada: “Entendi que lidar com o sistema escolar é muito diferente de trabalhar apenas com aquela dimensão ético-subjetiva da educação que estudáramos nos livros.
Havia que considerar o coletivo que a transformava e inseria constantemente novos desafios à nossa atuação; o contexto e sua história também se impunham.” Lecionou nos cursos normal, de administração escolar e de formação de professores para a pré-escola no Padre Anchieta, até 1968, com a instalação do AI nº 5. Junto com seu marido e filha de meses, exilou-se na Suíça. Lá, fez cursos sobre desenvolvimento e educação no Instituto Africano de Genebra, com Pierre Furter. Entre os europeus, conheceu os processos de exclusão que a permitiram, posteriormente, aumentar a empatia pelos alunos mal sucedidos na escola. Nas palavras da biografada: “Afora as dificuldades da língua, tudo o que eu julgava saber fazer bem não parecia adequado aos olhos deles.” De volta ao Brasil, 1971, trabalhou como auxiliar de pesquisa na Fundação Carlos Chagas (FCC); assessora de gabinete na Secretaria de Estado da Educação, com João Cardoso Palma Filho como coordenador da Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP), ajudou a conduzir o processo de reformulação curricular do sistema estadual de São Paulo e foi Membro do Conselho Estadual de Educação por dois mandatos consecutivos (1988-1994).

Iniciou sua atuação docente na Faculdade de Educação (FEUSP) em 1989, onde integrou o EDM – Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada, ministrando disciplinas na área de Supervisão e Currículo, tendo como colegas de área Eleny Mitrulis e José Cerchi Fusari, e na Pós-Graduação, propôs a disciplina: Questões Atuais de Currículo. Participou da coordenação da Área de Pedagogia; do Conselho de Departamento; da Comissão de Pesquisa da FE; de Programas de Formação Continuada de Docentes; Presidiu a comissão que fez uma reavaliação da Escola de Aplicação; fez parte da primeira Comissão Interdepartamental, que redigiu o Código de Ética na Pesquisa para a FE. Juntamente com a Fundação Carlos Chagas e Eleny Mitrulis, realizou a avaliação do Projeto ‘Reforço Escolar Mediante Horas Adicionais de Estudo para Alunos do Ensino Médio’(2004), visando aumentar a oportunidade de ingresso para os alunos das escolas estaduais públicas no ensino superior público, além de experimentar novas formas de relação com o conhecimento. Aposentou-se em 2010.
Permaneceu como docente de Pós-Graduação até 2018 e foi consultora de pesquisa do Cenpec, coordenada por Antônio Augusto Batista. O objetivo era analisar o movimento de renovação curricular observado nos estados e distrito federal entre 2009 e 2014.
Destacou como momentos mais marcantes, durante sua atuação na FEUSP, a coordenação de estudo desenvolvido pela FCC, com aporte da Unesco, que ensejou a análise das propostas curriculares elaboradas pelos diferentes estados da federação entre 1995-1998, com vistas a fornecer elementos para a elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação Básica (1998). A participação no Programa do MEC: “Currículo em Movimento”, com vistas a subsidiar o Conselho Nacional de Educação na formulação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (2009/2010).
Também registrou que seus primeiros anos como docente, na FE, não foram fáceis.
No primeiro ano da graduação do curso de Pedagogia, em que ministrava Teorias de Currículo, as turmas eram muito numerosas: 60 alunos das matrículas iniciais e mais de 20 estudantes remanescentes dos anos anteriores. A falta de conceitos básicos do campo da educação entre os iniciantes do curso também constituía uma dificuldade pois, afirmou, um melhor entendimento das questões de currículo supunha já uma introdução aos problemas educacionais. Quando as Habilitações do curso de Pedagogia foram suprimidas, participou da discussão do novo currículo e, Currículos e Programas, como foi rebatizada a disciplina, passou a ser ministrada no terceiro ano do curso, com estágio obrigatório.

Nos últimos anos tem escrito sobre os professores da educação básica. Foi parceira de Bernardete Gatti e de Marli André, em três publicações da Unesco (2009, 2011,2019), sobre formação, trabalho e carreira desses docentes em âmbito nacional, e o modo como são traduzidas essas dimensões pelas políticas públicas, pela academia e pelos próprios sujeitos responsáveis por transformá-las em realidade.