Memória do Corpo Docente – Flávia Inês Schilling

FLÁVIA INÊS SCHILLING


(Minibiografia baseada em entrevista concedida ao projeto “Registro histórico por meio de relatos biográficos de docentes aposentados: valorizando e reconstruindo a história da FEUSP” no ano de 2021.)


Flávia Inês Schilling nasceu em 26 de abril de 1953 em Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul. Após o golpe de 1964 sua família se exilou no Uruguai, onde cursou o Liceu e iniciou o curso de medicina. Voltou ao Brasil em 1980 graças à intensa mobilização existente em torno da luta pela Anistia, com a campanha “Liberdade para Flávia Schilling”. Foram realizados abaixo-assinados, passeatas, eventos com centenas de artigos em jornais e revistas que resultaram em sua liberdade e de outros estrangeiros presos no Uruguai. Ao chegar ao Brasil, acompanhou como ouvinte um curso na Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), ministrado por Paulo Freire, que a aceitou em sua turma, mesmo não tendo graduação.
Em 1986 formou-se em Pedagogia pela PUC-SP. Prosseguindo sua formação acadêmica, em 1991 concluiu seu Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e em 1997 doutorou-se em Sociologia pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP).
Trabalhou em escolas; na Secretaria da Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo e no Núcleo de Estudos da Violência da USP, coordenando a equipe de pesquisa “Continuidade Autoritária e a construção da democracia” e na Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania, coordenando o Centro de Referência e Apoio à Vítima com um atendimento inédito a familiares de vítimas de violência fatal.
Iniciou sua atuação docente na Faculdade de Educação (FEUSP) em 2001 onde integrou o EDF – Departamento de Filosofia da Educação e Ciências da Educação, ministrando disciplinas na área de Sociologia, Introdução ao Estudo da Educação, optativas e na Pós-Graduação. Em todos os cursos ministrados, apresentou a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Realizou pesquisas sobre a violência nas escolas e a formação em direitos humanos de professoras/es. Chefiou o Departamento; integrou a gestão de Cultura e Extensão; foi membro da Cátedra Unesco de Direitos Humanos, Paz, Tolerância e Democracia da USP; do Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos, do Conselho Municipal de Educação em Direitos Humanos da cidade de São Paulo; participou da coordenação do Grupo de Pesquisas sobre Direitos Humanos, Memória, Política e Democracia junto ao Instituto de Estudos Avançados da USP e do Conselho do Instituto Vladimir Herzog. Trabalhou em vários projetos de extensão junto a redes municipais de ensino, incluindo a formação das equipes do Núcleo de Apoio e Acompanhamento para a Aprendizagem (NAAPA) na rede municipal de São Paulo.
Destacou como momentos mais marcantes, durante sua atuação na FEUSP, os trabalhos com seus orientandos e orientandas, que trouxeram inquietações diferentes, que produziram trabalhos memoráveis, honestos, corajosos e justos. A bolsa de produtividade em pesquisa concedida pelo CNPq, onde desenvolveu o tema da Escola Justa: O Que Seria?, realizando sua Livre Docência na Faculdade de Educação com a tese: Violência, Direitos Humanos e Justiça: reflexões, pesquisando o tema da escola justa, em 2012. E também sua escolha como paraninfa e homenagens oferecidas pelas/os estudantes da graduação em Pedagogia.
Recebeu o prêmio Negrinho do Pastoreio oferecido pelo Governo do Estado do Rio Grande do Sul em rememoração à luta pela Anistia. Foi homenageada no Grande Expediente Especial: Da resistência à ditadura, à anistia e à redemocratização pela Assembleia Legislativa do RS. E o Prêmio de Direito à Memória e à Verdade Alceri Maria Gomes da Silva da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo.
Publicou, entre outros, os livros: Querida Família (1979); Querida Liberdade (1980); Violência urbana, dilemas e desafios (1999); Direitos Humanos e educação, outras palavras, outras práticas (2005); Sociedade da Insegurança e Violência na Escola (1014) e Educação e Direitos Humanos, percepções sobre a escola justa (2016). Publicou, também, dezenas de artigos e participou da organização de materiais instrucionais sobre as temáticas vinculadas aos direitos humanos como: Pode ser diferente: cadernos sobre violência e discriminação, Reflexões sobre Justiça e Violência, o atendimento a familiares de vítimas de homicídio e Cadernos de Debates do NAAPA.