Memória do Corpo Docente – Anna Maria Pessoa de Carvalho

ANNA MARIA PESSOA DE CARVALHO


(Minibiografia baseada em entrevista concedida ao projeto “Registro histórico por meio de relatos biográficos de docentes aposentados: valorizando e reconstruindo a história da FEUSP” no ano de 2021.)


Anna Maria Pessoa de Carvalho nasceu em Caçapava, interior de São Paulo.
Em 1962 formou-se em física pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de São Paulo. Contou que o Departamento de Educação, até então localizado na Rua Maria Antônia, veio do dia para a noite para o Centro Regional de Pesquisas Educacionais de São Paulo (CRPE/SP), localizado na Cidade Universitária “Armando de Salles Oliveira”, em 1962. Prosseguindo sua formação acadêmica, em 1973 doutorou-se em Educação na área de Ensino de Ciências pela Faculdade de Educação (FEUSP) da Universidade de São Paulo (USP).
Trabalhou como professora de Física no Colégio de Aplicação da FFCL USP entre 1964 a 1970.
Iniciou sua atuação docente na Faculdade de Educação (FEUSP) desde sua criação em 1969, quando foi desmembrada da FFCL na Reforma Universitária, do mesmo ano. Integrou o EDM – Departamento de Metodologia do Ensino e Educação Comparada, na área de Metodologia de Ensino de Física. Foi coordenadora do Grupo de Metodologia; Presidente da Comissão de Pesquisa; Coordenadora do Laboratório de Pesquisa e Ensino de Física (LAPEF), conhecido internacionalmente por suas pesquisas, e Diretora da Faculdade de Educação entre 1994 a 1998. Também foi representante brasileira na International Commission on Physics Education (1994 a 2000), por dois mandatos, levando pesquisas de doutorandos para apresentação. Contou que ocorriam reuniões todos os anos em diferentes países, como nos EUA, Hungria e França. E salientou a obrigação que qualquer pesquisador tem de participar de congressos e encontros. Uma vez que é através dessas interações que as pesquisas são validadas, pelo grau de receptividade que ocorre.
Sobre a mudança do Departamento de Educação para a Cidade Universitária,
contou que a mudança dificultou o andamento das aulas. Os telhados das salas, que foram adaptados para as aulas, eram ondulados ao invés de retos, o que tornava a acústica muito ruim. A sala dos professores era um apartamento pequeno, até a construção do prédio dos professores essa situação permaneceu. Quando foi diretora havia a luta para reforma da estrutura da faculdade, então com a verba disponível para reformas, a primeira coisa feita foi a reformulação das salas de aulas e, posteriormente, as salas de trabalho dos professores.
Destacou, como o maior desafio enfrentado como diretora, as greves. O dilema entre a parte administrativa, cobrança da reitoria pela zeladoria do prédio, e a sua comunidade, professores e alunos. Ocorreram duas greves de professores durante a sua gestão.
Destacou como momentos mais marcantes, durante sua atuação na FEUSP, seu trabalho em sala de aula. Nas palavras da biografada: “Gosto muito mais de ensinar, isto é: dar aula, e de pesquisar, do que gerencia. Orientei cerca de 60 trabalhos de mestrado e doutorado e fui coordenadora de projetos da FAPESP e CNPQ. Assim, apesar de ter lutado e conseguido verba para reforma da FEUSP e da Escola de Aplicação (EA), os momentos mais marcantes foram relacionados à pesquisa. Como a organização de encontros internacionais, como o sobre Jean Piaget, que lotou todos os dois lados do auditório do Memorial da América Latina e o Ensino por Investigação que foi no auditório da Faculdade de Arquitetura (FAU) quando trouxemos pesquisadores internacionais. O Encontro Internacional sobre Piaget foi um grande sucesso. Primeiro pensamos no auditório da EA: lotou; pedimos o da USP: lotou; então, fomos para o Memorial da América Latina. Houve cobrança de ingressos e com o dinheiro arrecadado foi reformada a sala da congregação da FEUSP, no prédio B. Com retratos de todos os diretores, móveis especiais e instalação de ar condicionado.”
Seu maior interesse foi lecionar por trazer o contato direto com a mocidade. Em seu curso de Metodologia de Ensino de Física os futuros professores eram gravados dando aulas de reforço aos alunos da EA. As aulas tinham duração de 50 minutos e o tema escolhido pelos alunos da EA, dentre os assuntos que possuíam maior dificuldade.
O intuito era que os alunos se ouvissem dando aula e analisassem sua interação com a turma e a quantidade de perguntas formuladas. É preciso olhar para o aluno quando se é professor, aprender fazer perguntas. O conteúdo deve ser transformado em uma série de perguntas, nas palavras de Anna Maria.