O colóquio abrange três eixos centrais, os quais propõem o estabelecimento de relações entre as ideias filosóficas de Wittgenstein com questões educacionais contemporâneas a partir das seguintes temáticas:
Eixo 1 - A terapia filosófica wittgensteiniana na educação
Subjacente a praticamente toda teoria pedagógica tem-se uma concepção de conhecimento, em sua maior parte, advinda de filosofias dogmáticas, como nos mostra a história da educação. Da perspectiva de Wittgenstein, as filosofias dogmáticas são aquelas que pressupõem um fundamento último e absoluto para o conhecimento e que, para justificar seus dogmas, recorrem a entidades metafísicas. Em oposição a tais filosofias, a segunda fase de seu pensamento permite uma abordagem dos problemas da filosofia dita tradicional que não propõe mais teses ou sistemas de ideias, mas um modo de investigação que parta de conceitos que possibilitem a crítica a tais sistemas e que também leve à dissolução ou um esclarecimento dos problemas em tela. Denominada de terapia filosófica wittgensteiniana, este modo de abordagem das questões filosóficas tem inspirado diversas linhas de investigação conceitual, em particular, no campo da educação, as quais têm se debruçado sobre paradoxos e dilemas educacionais que atravessam os tempos, e que ressurgem na contemporaneidade sob novas terminologias, decorrentes de usos dogmáticos de conceitos tais como os de democratização do ensino, qualidade de ensino, avaliação escolar, compreensão, pensamento crítico, conhecimento, competência, formação ética, ensino e aprendizagem, inteligência artificial, entre outros.
Eixo 2: Reformas Curriculares e Políticas Públicas
Este eixo tem como objetivo abrir espaço dentro das discussões de políticas educacionais para reflexões e pesquisas que estejam sendo realizadas de uma perspectiva filosófica wittgensteiniana. O intuito é o de abraçar discussões que se desviam dos grandes pólos de produção das orientações pedagógico-filosóficas que moldam as diretrizes nacionais, tal como discussões de currículos e políticas fora do âmbito brasileiro. Propomos a abertura desse espaço pois acreditamos que há em Wittgenstein fonte fértil para alimentar discussões alternativas às das vertentes convencionais. Apesar de Wittgenstein não tratar diretamente sobre educação, sua filosofia da linguagem que abarca os conceitos de “semelhanças de família”, “jogo de linguagem” e “proposição gramatical”, entre outros, possibilita nutrir discussões críticas sobre os rumos e anseios dos educadores e da sociedade de modo geral, relativas ao currículo e a propostas de políticas educacionais. E em especial aqui, no Brasil, com a BNCC e a reforma do Ensino Médio (e propostas atuais de contrarreforma), vivemos um momento propício para se repensar novos rumos e diretrizes educacionais.
Eixo 3 - Cultura Escolar, Jogos de Linguagem e Práticas Pedagógicas
Não são incomuns as observações de Wittgenstein a respeito da aprendizagem de diferentes jogos de linguagem. Comentadores reconhecem que as observações do filósofo não se voltam aos aspectos empíricos envolvidos na relação pedagógica, bem como relembram que os procedimentos de ensino nunca foram objeto privilegiado das reflexões do autor. Não obstante, tais apontamentos não deixaram de inspirar pesquisas voltadas à compreensão das práticas educativas concretas. Seu método terapêutico e suas reflexões sobre a linguagem têm se apresentado como ferramentas para pensar questões educacionais contemporâneas, a natureza do ensino e da aprendizagem, as relações entre linguagem e práticas pedagógicas. Nessas condições, este eixo acolhe trabalhos interessados em refletir sobre práticas educativas à luz da segunda fase do pensamento de Wittgenstein. O eixo abrange não apenas o tratamento de práticas didáticas e procedimentos de ensino dos diversos componentes curriculares, como também temas e problemas vigentes relacionados ao contexto e às rotinas características da cultura escolar.

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