Diálogo e paz no lugar de bombas 

A Congregação da FEUSP manifesta seu repúdio às ações genocidas do governo de extrema-direita do Estado de Israel, que após um ano de invasão à Faixa de Gaza já matou pelo menos 42.603 palestinos e deixou por volta de 100 mil feridos até o momento em que este texto foi redigido, em sua maioria mulheres, idosos e crianças. A invasão se deu em resposta ao atentado terrorista organizado pelo Hamas ocorrido no dia 7 de outubro no território israelense, próximo à fronteira com a faixa de Gaza, quando foram mortas 1,2 mil pessoas e 250 foram sequestradas. No entanto, desde então, ao invés das negociações iniciais com o Hamas levarem à libertação de todos os reféns e a um diálogo que resolvesse o conflito entre as partes envolvidas, as ações desproporcionais do exército de Israel têm ocasionado a morte não só de civis palestinos como também dos próprios reféns, atingidos em meio aos bombardeios incessantes em todo o território de Gaza, sob o pretexto de se liquidar previamente todos os membros do Hamas. Apesar dos apelos pela paz de toda a comunidade internacional, a invasão por terra do exército de Israel continuou devastando a faixa de Gaza, vitimando cada vez mais civis e destruindo bairros e cidades inteiras, com a população sendo cada vez mais asfixiada por falta de alimentos, inclusive água, sobrevivendo em acampamentos precários, com todos os hospitais, escolas e universidades destruídas e sem ter como sair do inferno em que estão vivendo por terem todas as saídas interditadas por determinação de Israel. E mesmo já tendo matado o chefe do Hamas, Yahya Sinwar, em 17 de outubro deste ano, o exército de Israel continua sua escalada de violência. Três dias depois da morte de Sinwar, o exército israelense voltou a bombardear o norte do território de Gaza matando mais de 87 palestinos em Beit Lahia e deixando pelo menos 157 feridos, sendo que o exército de Israel nem se preocupa em divulgar quem teria sido, desta vez, o alvo da ação, como também continua se recusando a negociar o cessar fogo e a paz na região, ignorando os apelos da comunidade internacional e as decisões da Corte de Haia, que já determinou que Israel tome medidas para evitar ‘atos de genocídio’ na guerra contra o Hamas, conforme os critérios estabelecidos na Convenção Internacional contra o Genocídio que tipificam este crime, a saber: infligir condições de vida que destruam a capacidade de sobrevivência; transferir crianças de um grupo para outro local de forma forçada; causar danos físicos ou mentais graves; matar membros de um determinado grupo nacional, étnico, racial ou religioso. Além de continuar a ignorar os critérios estabelecidos que caracterizam o genocídio em curso, a escalada de violência promovida pelo governo de Israel está levando à morte não só dezenas de milhares de civis palestinos na faixa de Gaza, como também civis na Cisjordânia e em várias regiões do Líbano, em particular no sul deste país, onde existe uma concentração muito grande de brasileiros, e na capital Beirute, em que quarteirões inteiros estão sendo bombardeados pelo exército de Israel recorrendo-se à mesma justificativa, que é a de eliminar membros do Hezbollah que apoiam o Hamas, como se a morte de um integrante do Hezbollah justificasse a morte de centenas de civis que moram nas proximidades do suposto alvo terrorista, muitas vezes vagamente localizados pela IA de computadores programados para estes fins.
Todo este horror está sendo possível com a retaguarda dos Estados Unidos e outros aliados de Israel que fornecem armas e estrutura bélica para o Estado de Israel, que continua avançando nos ataques que atingem majoritariamente a população civil, tendo sempre como pretexto o extermínio de Hamas e do Hezbollah, quando cada vez mais se torna evidente, que o maior interesse do primeiro ministro Netanyahu, na verdade, é o de permanecer no poder até as próximas eleições para conseguir se reeleger mais facilmente no contexto de uma guerra, evitando, assim, os inúmeros processos contra ele que podem levá-lo à prisão, caso perca sua imunidade parlamentar. Os interesses pessoais do primeiro-ministro israelense aliados aos interesses expansionistas dos sionistas de extrema direita que estão no seu governo têm levado ao temor de outro tipo de ataque do exército israelense, muito mais letal não só para o oriente médio como para toda a humanidade: o bombardeio de instalações nucleares do Irã, apesar dos ainda tímidos pedidos de moderação, vindos dos Estados Unidos, seu principal aliado, para que as forças israelenses mudem seus alvos. Ao mesmo tempo, diante da obsessão do governo de Israel em continuar com a guerra, o Pentágono já anunciou que os EUA vão enviar caças e alguns milhares de soldados ao Oriente Médio para reforçar a segurança de Israel, o que elevará o número total de tropas americanas na região para até 43 mil soldados. Neste contexto de falta de diálogo e de negociação por parte de Israel para o término da guerra, a única saída seria a de que os EUA e seus aliados parassem de subsidiar Israel com armamentos e força militar, e a pressão neste sentido deve vir de todas as instituições democráticas que prezam as vias do diálogo para se resolver conflitos. Daí que esta congregação da FEUSP, além de conclamar o governo brasileiro a romper suas relações diplomáticas com Israel, vem através desta, solicitar ao Conselho da Universidade de São Paulo que aprove uma resolução com a finalidade de interromper convênios da USP com instituições acadêmicas que estão de algum modo colaborando, direta ou indiretamente, com a guerra promovida por Israel contra a faixa de Gaza e outros territórios do oriente médio. E, finalmente, no mesmo sentido, esse colegiado manifesta sua preocupação com o processo disciplinar contra os cinco estudantes da USP que estão sendo acusados de antissemitismo após expressarem críticas ao Estado de Israel, e solicita da Reitoria da USP extremo cuidado e cautela no tratamento de tema ético e político tão sensível. E que no lugar de bombas, seja estabelecido o diálogo pela paz.
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