Nota sobre o falecimento de bell hooks

“Que nossa maneira de viver, ensinar e trabalhar possa refletir nossa alegria diante da diversidade cultural, nossa paixão pela justiça e nosso amor pela liberdade.” bell hooks

 

Na última quarta-feira, 15/12/2021, o mundo perdeu uma de suas mais brilhantes intelectuais: a professora e escritora estadunidense bell hooks, conhecida como uma das fundadoras do feminismo negro nos Estados Unidos e por elaborar um teoria pedagógica que entrelaça as pedagogias anticolonialista, crítica e feminista, propondo a transgressão como forma de construir o ideal de educação libertadora de Paulo Freire, autor que ela reconhecia como uma de suas principais referências.

De seu grandioso legado, destacam-se duas dimensões articuladas: – a teorização sobre a importância da presença de mulheres negras na produção científica; – o giro epistêmico que nos convoca a fazer (por meio de sua própria existência, aliás), ressignificando o fazer científico, a relação com a produção e o compartilhamento do conhecimento, a escrita acadêmica, a autoria.

Sua contribuição acadêmica é irrefutável em várias áreas ao propor a consideração de diferenças e desigualdades a partir de metodologias de articulação entre raça, gênero, classe ou elitismo e segregação espacial, mesmo antes da constituição do conceito de interseccionalidade, ao elaborar a categoria analítica de sistemas interligados de dominação.

Na luta política, ela sempre insistiu na ideia de que o “feminismo é para todo mundo”. Devido à sua vivência e experiências relatadas, seus escritos tornaram-se imprescindíveis no processo de diálogo com os problemas históricos (como a violência) causados pelo racismo às populações negras periféricas que, a partir dela, veem-se representadas.

No campo da Educação, bell hooks construiu sua proposta de pedagogia crítica transgressora na qual colocou como indispensável a questão racial, que segundo ela, era pouco presente em debates acerca do pensamento crítico sobre educação. Três importantes livros por ela escritos tratam dessa proposição. São eles “Ensinando a Transgredir: A Educação como Prática da Liberdade”, “Ensinando Comunidade: Uma Pedagogia da Esperança” e “Ensinando Pensamento Crítico: Sabedoria Prática”.

Desde o anúncio de sua morte, admiradoras e admiradores brasileiros manifestam que ler bell hooks é um encontro transformador, pois sua obra ainda apresenta a produção teórica e a escrita como lugares de cura, de produção de vida, sem falar na centralidade que teve o amor em seu pensamento.

Por tudo isso, a comunidade acadêmica da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo lamenta profundamente o fato de bell hooks ter nos deixado e celebra a magnitude de seu legado, que garantirá que esteja sempre viva entre nós.

São Paulo, 16 de dezembro de 2021.